Saúde vai dobrar o número de pacientes com hepatite B em tratamento no Brasil

Novo protocolo antecipa medicação e deve expandir o acesso ao tratamento para 100 mil pessoas. Essa e outras medidas de combate às hepatites devem levar a eliminação da doença até 2030

OMinistério da Saúde vai ampliar e simplificar o diagnóstico e tratamento de hepatite B no Sistema Único de Saúde (SUS). A expectativa, com a adoção das novas diretrizes, é mais do que dobrar o número de pessoas em tratamento no Brasil. Atualmente, 41 mil pessoas têm acesso aos medicamentos e esse número pode chegar a 100 mil. As mudanças são baseadas em evidências científicas mais atuais e posicionam a política de combate à doença no Brasil como uma das mais avançadas do mundo. 

Essa é uma das medidas adotadas pelo Ministério da Saúde para o fortalecimento do combate às hepatites virais. A atual gestão atua também em ações de prevenção, principalmente com a vacinação contra hepatite A e B, e na expansão do acesso a diagnóstico e tratamento contra hepatite B e C. Com isso, a pasta espera que a eliminação dessas doenças como problema de saúde pública ocorra até 2030. 

A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, nesta quarta-feira (19), reforçou a importância de qualificar cada vez mais a informação e ampliar o diagnóstico para as hepatites virais. “Nos últimos anos houve diminuição na prevenção, com redução de entrega de seringas, que são fundamentais nesse processo, mas nós retomamos essa ação e agora estamos trabalhando fortemente na prevenção das pessoas”, disse.

Ao todo, incluindo as hepatites virais, o Brasil assumiu o compromisso de eliminar 14 doenças determinadas socialmente nos próximos sete anos. Em relação às hepatites B e C, a meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é diagnosticar 90% das pessoas com hepatites virais, tratar 80% das pessoas diagnosticadas, reduzir em 90% novas infecções e em 65% a mortalidade. 

No Brasil, estima-se que 520 mil pessoas tenham hepatite C, mas ainda sem diagnóstico e tratamento. Até 2022, cerca de 150 mil pessoas já tinham sido diagnosticadas, tratadas e curadas da hepatite C. No caso da hepatite B, estima-se que quase 1 milhão de pessoas vivam com a doença no país e, destas, 700 mil ainda não foram diagnosticadas. Até 2022, 264 mil pacientes tinham sido diagnósticos com a doença e 41 mil estão em tratamento. 

Pandemia interrompe avanços no diagnóstico e tratamento contra hepatites virais

O número de confirmação de novos casos de hepatite B e C no Brasil caiu nos últimos anos. De acordo com o novo Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais do Ministério da Saúde, houve redução de 36% dos casos de hepatite B entre 2019 e 2022, passando de 14.350 casos para 9.156. O ano de menor registro foi 2020, com 7.969 casos. Em relação à hepatite C, a queda foi de 39% no período, passando de 23.284 para 14.124, também com menor número em 2020 (13.149). 

Contudo, isso não representa um avanço no combate à doença. Os resultados estão atrelados ao contexto imposto pela pandemia de Covid-19, que limitou o acesso dos usuários aos serviços de saúde, restringiu as ações extramuros por parte dos profissionais de saúde e reduziu as ações coletivas em virtude do distanciamento social, diminuindo a captação de pessoas e, consequentemente, o acesso a testagem, diagnóstico e tratamento para as hepatites virais. 

Em relação à hepatite A, a realidade é diferente e os avanços são concretos. A vacinação, incorporada ao calendário nacional em 2014, resultou em uma redução importante da incidência da doença. Foram 756 casos em 2022, com taxa de 0,4 casos por 100 mil habitantes. 

No período de 2000 a 2022, foram diagnosticados 750.651 casos confirmados de hepatites virais no Brasil. Desse total, o maior percentual e de hepatite C (39,8%), seguido de hepatite B (36,9%) e hepatite A (22,5%). O Nordeste concentra a maior proporção das infecções pelo vírus A (30%) e no Sudeste estão as maiores proporções dos vírus B (34,2%) e C (58,3%). 

Em relação a mortalidade, de 2000 a 2021, foram 85.486 óbitos por hepatites virais. A infecção pelo vírus C é o de maior letalidade, concentrando 76,1% dos óbitos, seguido pela hepatite B (21,5%) e, muito abaixo, está hepatite A (1,5%).  

Hepatite B: entenda o novo protocolo de assistência que vai ampliar o acesso ao tratamento

O novo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de hepatite B dispõe sobre recomendações para diagnóstico e tratamento da doença no SUS. Entre a principal mudança está a simplificação das indicações para início do tratamento. Antes, o critério continha mais variáveis, o que exigia a necessidade de avaliação de um especialista. Agora, o diagnóstico com teste de carga viral detectável para hepatite B avaliado em conjunto com a idade será suficiente começar com a medicação de forma imediata. 

Outra novidade no PCDT que vai facilitar o acesso ao tratamento é a redução do critério laboratorial. Antes, os valores dos exames de enzimas do fígado tinham de estar duas vezes maior que o normal. Agora a medicação será recomendada aos pacientes com 1,5 vezes acima do nível de referência. 

As simplificações vão aumentar o número de candidatos com indicação para tratamento e, dessa forma, garantir o acesso aos medicamentos logo após o diagnóstico laboratorial, quebrando a cadeia de transmissão e evitando casos graves e óbitos. O Ministério da Saúde estima chegar a 100 mil pacientes em tratamento nos próximos dois anos. 

Hepatite C: foco nas populações de maior incidência da doença

Os casos de hepatite C estão concentrados em populações de maior vulnerabilidade social, como população privada de liberdade, população de rua e institucionalizados, além de homens que fazem sexo com homens. Estima-se, por exemplo, que de 2% a 10% da população dos presídios tenham sorologia positiva para a doença. O Ministério da Saúde trabalha no desenvolvimento de ações articuladas com outras pastas, como os ministérios da Justiça e do Desenvolvimento Social. 

Tanto que uma das mais recentes iniciativas do Ministério para responder às hepatites virais é a criação do Comitê Interministerial para a Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (Cieds). O Comitê, instalado em junho, reúne, de forma inédita, nove ministérios para elaborar estratégias de eliminação de doenças que acometem, de forma mais intensa, as populações sob maior vulnerabilidade social. 

A instalação do Cieds é parte da premissa de que a ampliação do acesso à saúde para as populações que possuem vulnerabilidades acrescidas é resultado de um esforço coletivo. 

Além disso, o Ministério da Saúde já iniciou processo de compra de um dos mais modernos tratamentos para hepatite C, em que um único comprimido reúne três medicamentos – sofosbuvir, velpatasvir e voxilaprevir. O produto será indicado para pacientes que não tiveram resposta esperada nos primeiros tratamentos e a expectativa é que a oferta no SUS seja viabilizada até o fim do ano.

Destaque internacional

A revista The Lancet, uma das mais prestigiadas publicações científicas, na edição divulgada esta semana, deu destaque ao elogio da Organização Mundial da Saúde (OMS) ao Brasil pela criação do Cieds. Segundo a notícia internacional, a diretora do Programa Global de Tuberculose da OMS, Tereza Kasaeva, afirma que o Brasil avançou rapidamente nos últimos seis meses para incluir nove ministérios na ação rumo ao fim da doença e dar respostas mais efetivas aos principais impulsionadores da epidemia. Ela defendeu que outros países também promovam esforços para aumentar a colaboração multissetorial e desenvolver um sistema de prestação de contas eficaz para eliminar a tuberculose.

Campanha do Ministério da Saúde incentiva população a fazer testagem

Com o slogan “Hepatites, descubra se você tem”, a campanha do Ministério da Saúde destaca a importância da testagem para os vários tipos da doença. O SUS disponibiliza, gratuitamente, nas Unidades Básicas de Saúde, testes rápidos para hepatite B e C, em que é possível detectar a doença com uma gota de sangue. A confirmação do diagnóstico é feita por meio de teste rápido molecular. 

Ainda não há tratamento capaz de curar a hepatite B, porém, além da prevenção com vacina, há medicamentos que colaboram para o controle da carga viral. Para hepatite C, o SUS disponibiliza tratamento altamente eficaz de curta duração que garante cura em cerca de 95% dos casos. 

As vacinas contra hepatite A e B fazem parte do calendário nacional, cujas cobertura vacinal estão 72,7% e 77,7%, respectivamente. Longe da meta de 95% de cobertura. A vacina da hepatite A tem esquema de uma dose aplicada aos 15 meses de vida e também está disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) com duas doses para pessoas acima de 1 ano de idade com determinadas condições de saúde. Já a vacina da hepatite B, a recomendação é que se façam quatro doses da vacina, sendo: uma ao nascer (vacina Hepatite B), e aos 2, 4 e 6 meses de idade (vacina Pentavalente). Para a população adulta, o esquema completo se dá com o registro de três doses. 

Para quem tem mais de 20 anos, e não sabe se tomou as três doses de hepatite B, procure um posto de saúde para fazer o teste de hepatites. E o Ministério da Saúde recomenda que todas as pessoas com mais de 40 anos façam o teste. 

No início de julho, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a lei que institui o Julho Amarelo no país, mês destinado à luta contra as hepatites virais. De acordo com o documento, também assinado pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, a ação terá foco na conscientização sobre os riscos da doença, nas formas de prevenção, assistência, proteção e promoção dos direitos humanos. O projeto originário da lei é de autoria do atual ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha, deputado federal à época.

Fonte: Ministério da Saúde